Bono: ‘Posso Ir ao Túmulo Pensando na Canção que Deixei Escapar’

Em uma tarde ensolarada em sua casa em Killiney, Dublin, Bono, o icônico vocalista do U2, reflete sobre a vida, a morte e a música. Aos 65 anos, ele lança Bono: Stories of Surrender, um filme que revisita sua trajetória, desde a adolescência marcada pela perda até os palcos mundiais. A narrativa começa com um momento crítico: em 2016, uma cirurgia cardíaca de emergência o colocou face a face com a mortalidade. “Edge disse que eu tratava meu corpo como um inconveniente”, conta Bono, agora mais atento à sua saúde.


A entrevista com Sean O’Hagan revela um Bono em transformação. Após décadas dividindo-se entre o U2 e o ativismo, ele decidiu priorizar a música e a família. “Terei que parar com algumas coisas para fazer o que me foi dado desde os 17 anos”, diz, reconhecendo que sua campanha incansável por justiça global, como a criação do Pepfar, que salvou 26 milhões de vidas, às vezes custou caro. “Eu poderia ter perdido a banda”, admite, lembrando tensões com seus colegas.

A perda de sua mãe aos 14 anos é um fio condutor da história. “A família desapareceu depois que ela morreu”, diz Bono, com uma honestidade brutal. Sua relação com o pai, Bob Hewson, também é revisitada com carinho e complexidade. “Agora percebo que ele era mais carismático do que eu”, reflete, após interpretá-lo no palco. Essas memórias pessoais contrastam com encontros com figuras como Nelson Mandela e George W. Bush, mostrando o equilíbrio entre o rockstar e o ativista.

Bono não foge de controvérsias. Criticado por aceitar a medalha de liberdade de Joe Biden em meio ao conflito em Gaza, ele defende sua posição: “Falei sobre a falta de liberdade dos palestinos no mesmo dia”, explica, enfatizando sua busca por resultados concretos. Sobre a política atual, sua decepção é palpável. Ele critica a “vandalismo” da administração Trump, que ameaça programas como o Pepfar. “É assassino”, diz, com uma mistura de raiva e tristeza.


Olhando para o futuro, Bono está em estúdio com o U2, trabalhando no 16º álbum da banda. “Quero servir à grandeza da nossa arte”, afirma, reconhecendo que suas distrações ativistas nem sempre ajudaram o grupo. Com humor e humildade, ele conclui: “A humildade está a caminho.”

Bono: Stories of Surrender estreia em 30 de maio no Apple TV+ e estará no Festival de Cannes.